A Praça do Martim Moniz é uma das principais praças do Centro de Lisboa. Ela foi reformada nos anos 1990, entrou em processo de deterioração e, apesar disso, funciona como o principal centro da comunidade multicultural de Lisboa, especialmente as comunidades asiáticas. Organizado pela Ordem dos Arquitetos, o edital desse concurso internacional pedia um “Jardim do Mundo” que fosse, além de uma nova área verde, um local aberto a feiras, mercados temporários, eventos cívicos e procissões.

O principal elemento da nossa proposta é uma linha diagonal que une os dois trechos da Rua da Palma, uma via que passa pela praça. A diagonal é uma linha que pondera uma série de questões da envolvente:

_Remete-nos ao antigo traçado em diagonal que antes passava pelo local, aludindo a um palimpsesto histórico e surgindo como uma mediadora do passado e do futuro;

_Desenha a esplanada da Praça, que é uma área para eventos cívicos;

_Exalta e determina vazios para dois monumentos da envolvente: a medieval Torre da Pêla e a Muralha Fernandina;

_Arranja os usos da Praça, definindo uma área seca a poente e uma área ajardinada a nascente;

_Ordena usos conflitantes e simultâneos nestas duas áreas, como jogos de críquete x parque infantil, áreas de sol x áreas de sombra, áreas ativas x áreas de contemplação;

_Respeita o sistema de vistas do Castelo São Jorge ao especificar espécies arbóreas de porte médio;

_Valoriza a microcentralidade do largo da Igreja São Domingos.

Um maidan português
Palavra de origem árabe, maidan é um espaço aberto e indeterminado bastante comum nas cidades do subcontinente indiano. Implantados durante a colonização inglesa, primeiramente eram locais para a prática de esportes e jogos de origem europeia, aos poucos sendo apropriados pelos indianos e promovendo a mistura de castas e classes em espaço público.
Essa abertura dos maidans será a mesma da esplanada seca, cujo traço é definido pela diagonal norte-sul. Um espaço de matiz aberto, que busca responder aos anseios da vizinhança multicultural do Martim Moniz.

Paisagismo da Praça
O paisagismo se pretende como uma continuidade das espécies existentes que serão mantidas e da envolvente imediata da placa. O jardim é composto de bosques úmidos e prados de sequeiro, ou duas ecologias sobrepostas e simbióticas.

Microclima e escultura de vapor
Para combater a ilha de calor urbano de Lisboa, a área ajardinada terá diversos aspersores-nebulizadores para sua climatização. A combinação de sombra e água arrefecerá a Praça durante as altas temperaturas do verão, mas os dispositivos também podem ser ativados para criar ambiências brumosas em qualquer época do ano, e como um sistema complementar de rega das folhas.

Sistema de captação e reutilização de águas pluviais
A água pluvial incidente nos trechos impermeáveis da placa será recolhida e será encaminhada a um sistema de aproveitamento, nomeadamente a uma grelha de proteção, onde é realizada a separação das impurezas de maiores dimensões. A água limpa é encaminhada a um reservatório na envolvente e distribuída nos pontos de utilização (rega dos canteiros, ativação da escultura de vapor, lavagens diversas).