A Serra do Curral já foi um elemento natural visualmente presente no Centro de Belo Horizonte. Concebido no final do século XIX, o plano original da cidade considerava a Av. Afonso Pena como seu principal eixo, como uma reta inclinada que ligava duas paisagens: o ribeirão Arrudas abaixo e o sopé da Serra acima.
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Muita coisa mudou em 120 anos e pouco sobrou daquelas paisagens naturais. A fotomontagem abaixo é uma intervenção que reconecta a avenida à serra por meio de um monumento inexorável construído ao longo da avenida. É uma grelha tridimensional (as nossas tão queridas palafitas!!!) que funciona como um elogio de uma ausência, a Serra. E isso, mesmo sabendo que tal elogio serve-se de uma grelha que congestiona mais ainda uma cidade pouco preocupada com a manutenção de seus vazios.
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A princípio, a imagem parece  uma reaplicação do Monumento Contínuo do grupo Superstudio (Itália, 1969). Só que nada é mais similar e mais diferente que estas duas propostas. A crítica ácida e irônica dos italianos baseava-se em inserir mais arquitetura moderna em cidades já devastadas pela arquitetura moderna, em tornar mais arrogante o que já era pura arrogância, em forçar a separação e a imobilização. Enquanto a grelha é, para nós, um sistema aberto carregado de liberdade, esperanças, transformações. E de alavancagem de espaços públicos, tão carentes na cidade.
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Por que não construí-los justo na Av. Afonso Pena? Porque é o único local que nos resta para avistarmos alguma presença do único elemento natural da cidade, a Serra. Porque os melhores futuros da cidade existente não estão em bairros novos, mas em campos latentes que precisam ser inventados ou descobertos. Porque os prédios conclusos devem dar lugar a arquiteturas abertas, processuais, inconclusas.
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